quinta-feira, 14 de setembro de 2017

BODEGAS XIMÉNEZ SPINOLA

 O ULTIMO DOS MOICANOS 
 DA PEDRO XIMÉNEZ  

 EGG on the road 

 Jerez de la Frontera- Espanha 



Numa das melhores zonas vitivinícolas da Europa, o triangulo formado por Jerez-Sanlúcar de Barrameda- Puerto de Santa María, José Antonio Zarzana, herdeiro da nona geração da família, ainda é um dos contadíssimos casos aqui que continuam produzindo desde vinhos até destilados, e também vinagre de jerês unicamente com a uva Pedro Ximénez.
A bodega Xíménez Spínola tem até denominação de origem própria, a DVP "Denominação Varietal Protegida", pois eles trabalham somente com esta uva e existem diferencias importantes de elaboração na vinificação e destilação com a denominação de origem Jerez.

Queríamos aprender e adentrar ao publico brasileiro sobre a uva Pedro Ximenez numa região onde a Palomino é rei, e soubemos do pioneirismo da família Zarzana da Bodega Ximenez Spínola neste quesito, alem de ser uma bodega diferente ao outras: eles não participam de concursos por prêmios, e fazem produções limitadíssimas de cada um de seus vinhos e destilados.

A escolha não poderia ter sido melhor: A excelente predisposição da vinícola desde o primeiro contato e a receptividade assim que chegamos nos fizeram sentir a vontade, em casa.







Recebidos pelo próprio José Antonio Zarzana, um cara que manja e muito do assunto, mostrou não somente a sua paixão pelo que faz mas deu uma aula, uma master class sobre solos, terroir e a versatilidade e expressividade desta uva fantástica nas mais de três horas que passamos lá.

Ximénez Spínola é uma bodega familiar de quase trés seculos, quase que de culto. 
Aqui se prioriza qualidade por sobre quantidade para fazer vinhos, o resto que não atinge os padrões pretendidos se destila.
Era isso exatamente o que eu procurava, e não as vinícolas gigantes de Jerez de la Frontera que priorizam a Palomino e que compram a Pedro Ximénez de bodegueiros de Montilla - Moriles.

A experiencia foi inesquecível por todos os lados: a receptividade de todo o equipe lá, a qualidade dos produtos e o tempo passado com José Antonio, verdadeiramente impagável.


José António, alem dum apaixonado pelo que faz é uma figuraça, dessas que alguma vez você sonhou encontrar no mundo do vinho.
Ele e o resto do team nos contaram ao detalhe a historia desta vinícola, que conta com exportações feitas e documentadas já desde o século XVIII.



Foi seu avó quem ante a impossibilidade de vender o vinho de duas ou trés safras acumuladas deixou ele "dormindo" em barricas de castanho....o que hoje Jose Antonio agradece infinitamente.


Também soubemos das dificuldades pelas que a bodega passou décadas atras, quando ficou prestes a fechar, mas com a firme determinação de José de não abrir mão do que levava no sangue, duma tradição familiar que foi se transmitindo por gerações fez ele acreditar que podia dar certo, numa época onde ser bodegueiro não tinha o glamour de hoje e muitas vezes nem lucro gerava.




Percorremos as vinhas, entendemos as particularidades do solo da mão dum mestre e fomos instruídos sobre os distintos tipos de elaboração dos vinhos nesta região, como o sistema de soleo "pasificando" uvas ao sol (para que a uva vire uma uva passa com a conseguinte perca de rendimento, mas com a concentração de açucares), um verdadeiro aprendizado.


Fizemos também claro, uma cata completa de vinhos secos, fortificados de sobremesa e até destilados bebendo incluso diretamente das soleras e barricas. 





A cata em si própria foi surpreendente...eu não estava na minha zona de conforto de sabores e aromas facilmente reconhecíveis, esta era uma experiencia sensorial diferente, fui com a mente bem aberta e o resultado foi maravilhoso, não só pelo novo mundo sensorial aonde fui transportado mas pela amplitude e generosidade de José Antonio, um craque.


Começamos a cata com o branco seco feito com a Pedro Ximenez, o Ximénez Spínola Fermentação Lenta 2015, com uma produção menor a dez mil garrafas. Primeira nariz não tão expressiva, a segunda já soltou ameixa, passas e algumas notas tostadas. Em boca é amplo, algo untuoso, persistência interessante; Um branco diferente, longe de todos os que já tinha provado.



O Ximénez Spínola Old Harvest 2014, que se apresenta em garrafas de 50cl foi o primeiro grande impacto dum meio-dia inesquecível.


Talvez o vinho mais complexo e fascinante da bodega, é um medium dry, um blend entre um Pedro Ximénez Muy Viejo e a ultima safra secada ao sol durante trés dias, logo incorporada a uma solera com Pedro Ximénez, já enferrugado de 1964. Se fermenta em barricas até conseguir 17% de alcool e uns 45g residual de açúcar. Um vinho único, de notas aromáticas únicas e uma boca de filme. Me trouxe duas garrafas para bebe-las tranquilamente em casa e descobrir gole a gole sua complexidade e mutação na faixa dos 25/30 euros a garrafa lá.

Xímenez Spínola Exceptional Harvest 2015

Gera inicialmente alguma confusão com o nome, pois da a entender que se trata duma safra especial, quando simplesmente é o nome do vinho.
Fora a movida marqueteira o vinho é fera, ao ponto que comprei umas garrafas para degustar tranquilamente em casa, o que acontecera daqui a uns anos, pois evoluirá ainda em garrafa.
Vinho artesanal, qie se elabora a partir de uvas sobre maduradas entre duas e três semanas a mais para ganhar esse adocicado extra; Logo se macera com a pele em inox para posteriormente passar a barricas de carvalho de 225l por quatro messes...o resultado é um vinhaço!
Atrapa visualmente esse dourado brilhante e a nariz seduz com toques especiados, outros cítricos e fruta (figo); Boca gulosa, untuosa, com novos sabores e diferentes levezas e intensidades surgindo a cada oxigenação do vinho.
Preciso bebe-lo a garrafa inteira para entende-lo, pois é um vinho complexo que me voo a cabeça!
Na faixa dos 18/20 Euros lá, vale cada centavo.



Ximénez Spínola Pedro Ximenez Muy Viejo
Vinho obtido de uvas pasificadas é outro show, o caramelo/caoba impacta visualmente, vinho na faixa dos 60/70 Euros.
Se trata dum vinho especial pois é um blend de varias safras da uva pedro Ximénez, nesse particular sistema de soleras onde os vinhos mais velhos vão alimentado as outras soleras que possuem a produção nova para conseguir o blend.
Todas as safras do vinho, aquelas que passaram os rigorosos padrões de qualidade do comité da vinícola, juntas numa mesma garrafa, na porcentual que a bodega determina.
Um vinho sensacional, doce mais elegante, aveludado mais não denso, quase um néctar.



Ximénez Spínola Vintage 2015

 Vinho doce natural de uvas pasificadas ao sol e fermentado em barricas, que se apresenta em garrafa de 375ml, é outra experiencia gustativa e olfativa que sugiro vivenciar.
A nariz explode em frutas, mas em boca mesmo intenso, doce, guloso,consegue um equilíbrio surpreendente para não ficar enjoativo.
Outro dos que trouxe na mala para beber assim que a minha esposa ganhe o nené. 
Na faixa dos 15/20 Euros. 


Outras das especialidades da casa são os destilados...eu, que não consumo eles e que não fazem parte do meu dia a dia fiquei extasiado com a qualidade atingida pela bodega.
Não darei uma explicação técnica deles simplesmente porque a desconheço, mas a montanha rusa sensorial a que fui levado com a degustação destes exemplares únicos mudaram por completo a minha percepção em referencia aos destilados, brandis e Whisky, o que não é pouca coisa não.

Ximénez Spínola Diez Mil Botellas


Este brandi envelhecido em castanho uns 15 anos é coisa seria.
Com um 40% de graduação alcoólica estava convencido que não era para mim, pois na minha cabeça essa graduação a achava invasiva.
Sendo um neófito no assunto, o senti afrutado, brincalhão por sobre o álcool; Intenso, persistente 
Na faixa dos 55/65 Euros a garrafa, que é numerada e rubricada a mão.


Brandy Xíménez Spínola Tres Mil Botellas






  


Brandi que José Antonio fez questão de abrir quando eu suplicava para não malgastar uma das peças únicas num cara que não entende de brandis...ainda bem que ele foi insistente, pois não tenho como descrever em palavras as sensações que passaram pelo palato e a minha nariz ao degusta-lo.
25 anos de barricas de castanho e carvalho americano previamente envinhadas com o Pedro Ximenez de passas, das soleras onde o avó destilou aquele vinho que não vendeu que contei ao começo da mateira.
Um exemplar único, impecavelmente apresentado.
Sedutor âmbar/caoba dão lugar a uma primeira nariz que quase deve ser descartada, pois o álcool toma conta, omnipresente.
A oxigenação adequada  permite tirar o velo e achar intensidade sim, mas também aromas de frutos secos e fruta cristalizada.
Boca de sonho, elegante, passo fino e intenso, doce na medida certa.
Da persistência não faz sentido falar, pois não faria jus... das sensações finais tampouco... inesquecíveis.
As 3.000 garrafas duns 135 Euros cada estão vendidas antes de sair ao mercado, adquiridas por restaurantes de estrelas Michelin e colecionadores...nós tivemos o privilégio de experimenta-lo.





A casa também produz trés brandis Ximénez Spínola Cigars Club, leve, médio e forte para harmonizar com charutos, uma rareza para colecionadores e bon vivants, na faixa dos 400 Euros a garrafa; Destes não experimentamos, mas fomos nas soleras e barricas e bebi de tudo o que estava sendo produzido e envelhecido, até projetos novos que o mestre José Antonio Zarzana já esta desenvolvendo.




Bodega para ter realmente em conta em cada uma das variedades, pois produz exemplares únicos na sana obsessão de primar a qualidade por sobre o rendimento.


Saimos de la com o estomago vazio, era quase as quatro da tarde e ainda não tínhamos almoçado, mas cheios de espirito, com a mais absoluta certeza de ter vivido um dia magico e irrepetível.


Gracias José Antonio
Gracias equipe
Gracias Ximénez Spínola!!!!


Bodega Ximénez Spinola
Carretera Jerez-Sanlucar desvio Km.1,5, Las Tablas
Jerez de la Frontera